Geraldina Glória, 110, cidadã santa-cruzense
HOMENAGEM — Moradora que tem 110 anos de idade recebeu o título de “cidadã santa-cruzense” em emocionante solenidade no Palácio da Cultura
EMOÇÃO — Título de cidadã foi entregue em sessão solene realizada anteontem no Palácio da Cultura
Filha de escravos e, segundo a família, com 110 anos de idade, a aposentada Geraldina Maria da Glória Santos recebeu na manhã do feriado de sexta-feira, 13, o título de “cidadã santa-cruzense” outorgado pela Câmara de vereadores. A sessão solene foi realizada no Palácio da Cultura “Umberto Magnani Netto”, com a presença de vereadores, prefeita, demais autoridades e familiares da homenageada, conhecida como “Geraldina Baiana”.
O título foi concedido graças a uma lei do vereador José Paula da Silva (PR), aprovada por todos os vereadores no mês passado. O vereador pediu que a homenagem fosse entregue no Dia Municipal da Consciência Negra, comemorado a 13 de maio.
José Paula saudou a nova cidadã santa-cruzense, assim como a prefeita Maura Macieirinha (PSDB) destacou a importância dos negros na formação da sociedade de Santa Cruz do Rio Pardo. O vereador fez a entrega do título de cidadã a Geraldina.
A professora Nilda Caricati, diretora do Asilo São Vicente de Paula de Santa Cruz, agradeceu em nome da família e entregou flores a Geraldina Glória
O vereador Roberto Mariano Marsola (PTB), presidente da Câmara, aproveitou o Dia Municipal da Consciência Negra para destacar que no legislativo há três afrodescendentes: os vereadores Souza Neto, José Paula da Silva e Antônio Ferreira de Jesus.
O discurso mais demorado foi o do advogado José Eduardo Catalano, que enumerou as qualidades da homenageada e lembrou a luta contínua pelos direitos humanos e contra a discriminação racial. “Receber um título de cidadania é o mais alto reconhecimento que uma cidade pode oferecer a uma pessoa que, tendo nascido em outra localidade, passa a ser considerada filha da terra”, afirmou.
Marsola abraça Geraldina Glória
Aproveitando a data municipal, Catalano citou dezenas de negros que se destacaram no Brasil em todos os setores da sociedade, desde esportes até o cinema. De Santa Cruz, ele lembrou nomes que já fazem parte da história da cidade, desde figuras populares a símbolos do comércio e profissionais liberais. Entre eles Catalano citou Arlindo Gonçalves, primeiro locutor negro da história do rádio em Santa Cruz do Rio Pardo.
110 anos — Geraldina Maria da Glória Santos, embora conhecida como “Baiana”, nasceu em Rio Preto, Minas Gerais. Entretanto, como era comum naquela época, só foi registrada aos 15 anos. Filha de pais escravos, só viu a mãe ganhar liberdade na decretação da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888. Muitos parentes, porém, fugiram dos feitores das fazendas para se refugiar em quilombos.
Geraldina casou-se com Pedro Narciso, conhecido como “Pedro Maia” por ser campeão de malha. Veio de trem para Santa Cruz do Rio Pardo, onde o casal foi trabalhar na zona rural.
Geraldina teve 14 filhos, dos quais apenas 6 estão vivos. Ao longo da vida, ganhou fama de “benzedeira” e aprendeu noções de medicina popular. Foi, ainda, parteira e ajudou no desenvolvimento da vila Divineia, antigamente chamada de “Taturana”. A anciã contradiz os ensinamentos da boa alimentação, pois, aos 110 anos, gosta de carne gorda, fuma cachimbo e não dispensa uma cerveja.
Geraldina é a personagem do livro lançado pela professora Noriko Kawabata no final do ano passado, com ilustrações de João Castelhano. Na época, Kawabata afirmou que não queria escrever sobre algum personagem como zumbi, mas alguém do povo. “O objetivo era mostrar que a pessoa comum, levando uma vida honesta, pode ter um destaque”, disse na época a professora Noriko, que participou da solenidade de sexta-feira, 13, no Palácio da Cultura.
Fonte: DEBATE 15/05/2011
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